Só se fala de Star Wars, portanto, vou falar de Star Wars. Não vou nada, precipitei-me um pouco. Até porque ainda não
vi o episódio VII. Vou falar daquilo que já chegou até mim, vindo directamente
do episódio VII: spoilers.
Vivemos na era dos spoilers. Um gajo vê um filme e tem mil
maneiras de estragar a experiência dos que ainda não o viram. Há quem o faça
directamente. Vê o filme, carrega a arma e desata a disparar. “O assassino é o
não-sei-quantos”, “O não-sei-quantos morre”, “Vai haver outro filme, porque o fim
não é conclusivo”, “A não-sei-quantos está grávida e o puto é meu”. Bom, este último spoiler talvez seja um pouquinho mais
específico. Mas também acontece muito. Acontece às vezes, vá.
Há todo um conjunto de estratégias que permitem a uma pessoa
defender-se dos spoilers em série. Há quem se desligue do mundo, abandonando as
redes sociais. Nem sempre resulta: depois, vai-se ao café, alguém vai à net e o
spoiler aparece.
Há quem se feche em casa. Depois, um amigo liga e diz “Nem
sabes o que me disseram: a não-sei-quantos está grávida e o puto é teu”.
Bom, continuamos na especificidade. Vamos passar a uma coisa
mais genérica. Um amigo liga e diz “Nem sabes o que me disseram: vai acontecer isto assim, assim”. Se a pessoa disser, literalmente, "isto assim, assim", o spoiler é inofensivo. O problema é que ninguém se lembra disto, na hora de proceder ao spoiler.
Só há uma forma eficaz de evitar um spoiler em série:
construir uma trincheira e atirar-lhe objectos, quando ele se aproximar. De preferência,
pontiagudos, para que possam feri-lo de morte. Mas sejam rápidos, porque se ele
fica a estrebuchar, ainda vai dizer mais dois ou três spoilers. Inclusivamente,
sobre ele mesmo: “Estou prestes a morrer!”.
Também existe o “spoiler ninja”. Ele vai contar o filme
todo, mas aos poucos e de forma subliminar. Há uma forma de identificar este
perigo para a sociedade: começa todas as frases sobre “Vou só contar-te isto”. Quando
ouvirem esta expressão, recorram ao truque da trincheira. Isto, claro, se não tiverem
ficado encantados com a história do “Vou só contar-te isto” e já saibam o filme
todo, sem terem pedido.
Para além destes, existe o anti-spoiler. Não te diz nada: se
gostou, se vale a pena, se foi sozinho, se comeu pipocas, se foi na Sexta, no
Sábado ou a 12 de Março de 1987. Não diz nada. Tu falas com ele e ele fica tipo
pedra. Alguns chegam a ficar em estado catatónico. Até veres o filme.
Depois, há os dependentes químicos dos spoilers. São aqueles
que pedem que lhes contem um bocadinho, mas depois querem saber tudo. Na hora,
sabe-lhes pela vida. Depois, sentem um peso na consciência, por terem sido fracos, perante a curiosidade.
Eu sou o colecionador de spoilers. Se vir um texto com “Spoiler
Alert”, vou ler tudo. Mas não me sinto mal, por isso. Eu sou tão aborrecido,
que os spoilers não diminuem a minha vontade de ver um filme.
Curiosamente, acho todos os filmes previsíveis. Ou sou muito
inteligente, e o cinema ainda não chegou ao meu nível, ou adiro em
demasia ao spoiler. Podem dizer-me qual a hipótese correcta. Eu curto spoilers.
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