Um grupo de amigos decide ir ao
cinema, ver o “Interstellar”. Devido a uma série de compromissos inadiáveis,
como tomar café, discutir a actualidade e duas ou três temáticas relevantes,
bem como um penalty mal assinalado, sem excluir uns olhares malandros às miúdas
da mesa do lado (embora não fossem nada de especial, eram as únicas do café, o
que as tornava uma espécie de Cleópatras de Segunda à noite), o grupo chegou ao
cinema com meia hora de atraso.
Ninguém contava com aquele triste
acontecimento. Ter que esperar uma semana para ver um filme tão esperado era
quase tão mau como ficar sentado o lado de um gajo que comentava o filme em voz
alta, enquanto comia pipocas de boca aberta e jogava “Angry Birds” com o volume
no máximo.
Um dos amigos encontrou a
solução.
- Não vos cheguei a contar, mas
tenho no carro uma máquina que me permite gerar rupturas no espaço-tempo. Isso
e abrir buracos na parede, com grande precisão. Até ajudei o meu tio, numas
obras em casa dele.
- Não me lixes. Isso dos furos na
parede é muito futurista.
Depois de uma demonstração de
“tupperwares”, que entreteve os convivas durante cerca de quinze minutos,
chegou a demonstração de rupturas no espaço-tempo. Como não houve consenso, o
grupo dividiu-se em três partes.
Uma parte foi para 1939 ver “E
Tudo o Vento Levou”. Choraram baba e ranho, ficaram sem saber se o filme tinha
voltado ao início e tentaram ligar pontas soltas (viajar no tempo causa alguma
sonolência e eles foram, à vez, tirando pequenos cochilos). Ainda deu para
repararem que o dono do café que frequentavam tinha ligeiras semelhanças com o
Clark Gable.
Outra parte do grupo foi para uma
dimensão paralela, onde o filme do momento, no planeta Terra, era “Entretela”,
um filme que contava a história de um grupo de alfaiates que, perante uma grave
escassez de entretela para os casacos, viajava pelo espaço-tempo, à procura de
planetas ricos em entretela. A missão foi bem sucedida e, quando esse grupo de
alfaiates regressou à Terra, estava em cena um “remake” de “E Tudo o Vento
Levou”.
Nessa versão, um grupo de robôs
do futuro procurava impor as suas regras nos campos de cultivo, enquanto
ocorria uma história de amor entre uma ceifeira automática e uma debulhadora. O
grupo de robôs libertou-se da opressão dos proprietários, enquanto que, do
romance, nasceu um pequeno aquecedor a óleo.
A terceira parte do grupo era
composta apenas pelo “Roleta”, que ficou em frente à máquina, a tentar perceber
como accioná-la e a escolher uma data de um jogo importante do Benfica até à
qual viajar. O espaço-tempo era bonito, mas o seu Benfica tinha outro
interesse.
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